Através... de Portas e Janelas
Portas fechadas
Portas abertas
Portas por onde nunca entramos
Portas por onde nunca iremos passar
Portas por onde saímos
Portas por onde vamos ao encontro
Portas que nos aprisionam
Portas que nos dão a liberdade
Portas que nos convidam a entrar
Portas que encerram o mistério
Portas que se abrem
Portas que se cerram
Mas...Por quê portas? Por quê janelas?
Poderia ser porque elas estão em todos os lugares... Porque elas retratam os diferentes conceitos arquitetônicos que caracterizam as diferentes épocas históricas, diferentes culturas... também, porque estão logo na fachada e anunciam, ou denunciam, o que vamos encontrar ao atravessá-las: um lugar sagrado, um ambiente rico e sofisticado, um lar simples e acolhedor, um espaço frofano, um presídio, a casa dos mortos ou o reduto dos loucos...
Tudo isso, sim... Mas, mais...
Por elas vemos alguém querido chegar; também, vemos alguém querido partir.
Por elas nos chegam boas notícias e, também, as más.
Por vezes, estão abertas, receptivas; outras, postam-se fechadas, impedindo o contato.
Através delas podemos nos esconder, nos proteger, nos resguardar.
Algumas são verdadeiras obras de arte, que se prestam mais para serem admiradas. Mas, também, outras servem para que através delas a arte da natureza chegue até nós: uma chuva que escorre na vidraça, um céu límpido e estrelado ou um sol brilhante, a neve caindo em suaves flocos ou o vento curvando as árvores, arrancando chapéus, descabelando quem se aventura enfrentá-lo.
E, então, pode-se ir além e pensar que: a semente só se transforma em planta quando sua força germinativa rompe a casca e entra em contato com os elementos que permitirão seu desenvolvimento; o óvulo só realiza seu potencial de vida quando permite a entrada daquele que virá fecundá-lo e, depois de fecundado e se tornado feto, chegará o momento que precisará abandonar o útero materno e sair à luz para que a vida iniciada possa ter continuidade; o pai precisará entrar na díade estabelecida com nossa mãe e rompê-la para que comecemos a nos tornar alguém; e chegará o momento em que precisaremos atravessar a porta da casa dos nossos pais para irmos ao encontro do mundo, do conhecimento, do outro.
Para a realização de todas estas tarefas existe um contexto de “através” pelo qual se estabelece o contato, pelo qual uma nova condição é viabilizada.
E como elemento simbólico desse “contato” e desse “transpor” necessários para que a vida se faça, podemos pensar nas portas e janelas. Através delas, mundo interno e mundo externo se comunicam...a vida acontece...entra, sai, passa...
Silvia Bozzetti