domingo, 15 de maio de 2011

 
 
 
 
Brugge - Bélgica



E eu, então cativa da minha janela, vejo tão pouco deste mesmo mundo. Partícula minúscula do infinito universo. Um lapso de tempo, diante do eterno. Passado e futuro e um instante agora que já passou... Porque todo instante passa. E a noite passa e quando amanhecer, nada será igual. Não seremos os mesmos. As flores não serão as mesmas. Nem as águas do rio, nem a lua, nem as estrelas, nem o cão. Nada será igual. Por que a vida não se repete. Apenas passa. Indiferente. Num eterno abrir e fechar de portas e janelas...
Que sejam então, azuis...
                                                                    Portas e Janelas Azuis
                                                                                   Nydia Bonetti
  
http://www.overmundo.com.br/perfis/nydia-bonetti

A viagem se faz viajando - o começo de tudo

Foi em  2005, depois de uma viagem sentimental a minha cidade natal, Rio Grande, que essa coisa da fotografia das portas e janelas começou a tomar forma.
Acompanhada de minha mãe e minha tia, durante um fim de semana, percorremos as ruas da cidade visitando os locais que faziam parte da história da família e entre mil lembranças e emoções, fui registrando tudo o que via para depois poder mostrar aos meus filhos e irmãos.
Na volta presenteei meu irmão mais velho com um Cd repleto de imagens da cidade que, talvez, há mais de 40 anos, ele não visitava.
E foi daí que veio o grande acontecimento: num certo dia ele me ligou para dizer que havia mostrado as fotos aos seus colegas da Faculdade de Arquitetura da Universidade onde leciona e que estes tinham gostado tanto de algumas que queriam fazer uma exposição com as mesmas, para o que me pedia autorização.
Nunca havia tido a pretensão de mostrar minhas fotos além do âmbito familiar e, portanto, o dilema não era autorizar ou não mas, sim, será que valiam ser mostradas?
Minha resposta foi que poderiam usar as fotos se eles achavam que as mesmas poderiam servir para alguma coisa e não se falou mais no assunto.
Quase 2 anos depois, num encontro com esse meu irmão, ele me entrega um envelope com as fotos que haviam sido ampliadas e expostas no saguão da faculdade. A impressão tinha sido feita em papel A4 comum e fiquei impressionada com as imagens que via. Imaginei como ficariam melhor se impressas em papel fotográfico o que logo providenciei  fazer.
Ao mesmo tempo, comecei a me dar conta de como tinha fotos de portas e janelas, do quanto elas me atraiam... E comecei a pensar no seu significado... do quanto elas representam a dimensão do “através”.
Daí, para pensar em fazer uma exposição e já ter o nome para a mesma foi um passo só.
Quando comuniquei a idéia à minha filha ela comentou, rindo, que eu era uma metida, capaz de pensar numa exposição de algo para o qual não tinha o menor preparo e que era totalmente fora da minha área de atuação, enquanto que conhecia uma artista plástica que fazia trabalhos maravilhosos mas que não costumava expor.
Bom, foi o suficiente para decidir que, então, convidaria esta artista – Olga Caon – para expormos juntas.
Entre fazer o contato com ela, vender a idéia e ela aceitar, começarmos a selecionar o material, organizar e, no meu caso, imprimir mais de 200 fotos, contactar com local onde expor, divulgar, etc...passaram-se uns 8 meses.
Mas o dia chegou.
                                   Convite que enviamos a nossos amigos e familiares

           Cartaz de divulgação confeccionado, carinhosamente, pela minha filha Márcia


Enfim o dia chegou...estava tudo pronto







Silvia e Olga

A família e os amigos lá estiveram






  









                                   


quarta-feira, 4 de maio de 2011

Não sou fotógrafa... apenas capto imagens

A maioria das minhas fotos foi clicada sem a intenção de reproduzir, de expor...simplesmente buscava captar algo que me parecia belo, que me agradava olhar, que queria guardar...muitas vezes clicava enquanto caminhava, literalmente, quase sem parar, sem preocupação com o enquadre... como deixando o registro digital da visão que as minhas caminhadas me proporcionavam.
Até hoje, quando as olho, cada uma delas me transporta para o momento em que por elas passei, onde era, como estava, o que sentia...através delas viajo no tempo e no espaço.
As fotos não sofrem qualquer tratamento porque o objetivo não é a qualidade técnica da fotografia.
Não sou fotógrafa: só quero é poder captar a imagem que me agrada, que me toca, que me emociona, que me transporta.

Cartaz de Portas e Janelas Grande (65cmX85cm)

 “À vida falta uma parte
 — seria o lado de fora —
pra que se visse passar
ao mesmo tempo que passa
e no final fosse apenas
um tempo de que se acorda,
não um sono sem resposta.
À vida falta uma porta".
                Versos de  “Entreter-se”,
                         Ferreira Gullar

Através... de Portas e Janelas

Através... de Portas e Janelas

Portas fechadas
Portas abertas
Portas por onde nunca entramos
Portas por onde nunca iremos passar
Portas por onde saímos
Portas por onde vamos ao encontro
Portas que nos aprisionam
Portas que nos dão a liberdade
Portas que nos convidam a entrar
Portas que encerram o mistério
Portas que se abrem
Portas que se cerram

Mas...Por quê portas? Por quê janelas?
Poderia ser porque elas estão em todos os lugares... Porque elas retratam os diferentes conceitos arquitetônicos que caracterizam as diferentes épocas históricas, diferentes culturas... também, porque estão logo na fachada e anunciam, ou denunciam, o que vamos encontrar ao atravessá-las: um lugar sagrado, um ambiente rico e sofisticado, um lar simples e acolhedor, um espaço frofano, um presídio, a casa dos mortos ou o reduto dos loucos...
Tudo isso, sim... Mas, mais...
Por elas vemos alguém querido chegar; também, vemos alguém querido partir.
Por elas nos chegam boas notícias e, também, as más.
Por vezes, estão abertas, receptivas; outras, postam-se fechadas, impedindo o contato.
Através delas podemos nos esconder, nos proteger, nos resguardar.
Algumas são verdadeiras obras de arte, que se prestam mais para serem admiradas. Mas, também, outras servem para que através delas a arte da natureza chegue até nós: uma chuva que escorre na vidraça, um céu límpido e estrelado ou um sol brilhante, a neve caindo em suaves flocos ou o vento curvando as árvores, arrancando chapéus, descabelando quem se aventura enfrentá-lo.
E, então, pode-se ir além e pensar que: a semente só se transforma em planta quando sua força germinativa rompe a casca e entra em contato com os elementos que permitirão seu desenvolvimento;  o óvulo só realiza seu potencial de vida quando permite a entrada daquele que virá fecundá-lo e, depois de fecundado e se tornado feto, chegará o momento que precisará abandonar o útero materno e sair à luz para que a vida iniciada possa ter continuidade; o pai precisará entrar na díade estabelecida com nossa mãe e rompê-la para que comecemos a nos tornar alguém; e chegará o momento em que precisaremos atravessar a porta da casa dos nossos pais para irmos ao encontro do mundo, do conhecimento, do outro.
Para a realização de todas estas tarefas existe um contexto de “através” pelo qual se estabelece o contato, pelo qual uma nova condição é viabilizada.
E como elemento simbólico desse “contato” e desse “transpor” necessários para que a vida se faça, podemos pensar nas portas e janelas. Através delas, mundo interno e mundo externo se comunicam...a vida acontece...entra, sai, passa...
                                                       Silvia Bozzetti