Sempre tive as janelas, tanto abertas quanto fechadas, como espaço de esperança.
Pensava que, por elas, acalentamos nosso desejo de ver chegar um dia melhor... de ver o inverno frio e escuro dar lugar às cores e à promessa de vida da primavera... de ver o dia ensolarado e morno convidar para um passeio despretencioso...ou, ainda, confirmar que está escuro, frio e chuvoso para permitirmo-nos não sair e mantermo-nos no aconchego, sem culpa.
Também, pelas janelas buscamos, esperançosos, ver a chegada de alguém aguardado... ou a passagem de alguém admirado.
Por elas procuramos ver sem sermos vistos, nos deixamos espreitar a vizinhança e, em fantasia, alimentamos nossa pobre vida com a vida do outro... mas, também, nos expomos, para que nos vejam, saibam que existimos e, quem sabe, nos tornemos desejados.
Deixamos que por elas entrem o ar, o perfume das flores, o ruído da rua, a luz e o calor do sol, na esperança que nos chegue a vida.
E são elas, e as situações que proporcionam, por vezes, o único meio de contato com o mundo exterior, permitindo que se mantenha acesa a chama da esperança que dá sustentabilidade ao mundo interno.
No entanto, quando isso deixa de acontecer, quando a desesperança se instala, quando o contato com o nosso interior não é possível ou é por demais sofrido e doloroso, a janela torna-se, então, um meio de escapar para o exterior, num afã de lá encontrar o que aqui não pode ser encontrado, não pode ser vivido, não pode ser sentido.
Sem esperança, tenta-se ir ao encontro dela.
Usa-se a janela como uma porta para sair da vida de desilusão e desespero mas, ao contrário do que a porta é capaz de proporcionar, a saída pela janela não leva a muito longe, o corpo fica logo ali, caído, inerte no piso duro e frio.
Pela janela se tece a vida... mas por ela pode-se romper o fio que a sustenta.
Pela janela pode-se deixar entrar a vida ...mas se a usarmos como saída, por ela se sai da vida.
Silvia Bozzetti